segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Irene morreu, mas passa bem

Pela riqueza do fato, antecipo a quem lê que a eminente foto não representa, com zelo, o singelo ataúde que tanto entristece o religioso e humilde povo do município de Simões (PI), quando em suas andanças pelo exercício da ruralidade se informam de triste acontecimento.
Garanto a quem se interessar que não passará de Janeiro de 2011 a devida postagem, dando marcas ao feito etnográfico naquelas bandas. No entanto, em que pese a inobservância da partida, os dias de feira, a muito já não são mais o mesmo. A casa de seu Zequinha então, virou uma romaria, carpideiras, beatas, o compadrio, geralmente aos sábados, derramam rios de lágrimas pela passagem da saudosa Irene, não tão bem comunicada, como seria de direito, perante a riqueza de valores éticos, morais e religiosos que deram lastro a sua vida entre nós.
 - "Dona Maria,( e tome choro), cumade Irene morreu de quê? Pura amô de Deus.
 -  "Muié, num divulga isso por aí não muiérzinha, Irene tá viva, acaba com isso."
 -  " Mas.. como Maria ?  Fui visitar o túmulo de pai e de Dr Abércio, e vi a cova dela muié, num esconde não ".
Por enquanto, as últimas informações daquelas bandas nos garantem que Irene continua frequentando a igreja, pagando o dízimo,  inclusive acompanhou  todas as novenas de  São Simão.
Como se não bastasse, não ressoam nenhuma notícia sua circulando pelo posto, pela farmácia de Seu Neco ou de Seu Gonçalo,muito pelo contrário, continua, como sempre, aparentando gozar de saúde invejável.
Para muitos, entretanto, Irene morreu, não obstante, passar bem, inclusive, com tempo para gastar nos cuidados com sua zelosa lápide.


terça-feira, 5 de outubro de 2010

Mais uma vez



Encerra-se o primeiro turno de mais uma presidencial e por onde passei, dos Pés-de-Serra lá pras bandas do Piauí, aos parrerrais da bucólica Petrolina, volto com a certeza de que é claro que o sol, vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei...
Vitimados pela ausência de maturidade democrática, sobrepujada pelas sandices incontroláveis dos arremedos cibernéticos, eis que pudemos observar a manipulação das massas através dos torpedos virtuais, passando pelas cooptações da fé, desconstruindo imagens, sem que o debate sobre políticas públicas viesse à tona.
Escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã. Espera que o sol já vem...
Quem antes, ontem, mensalou, hoje, traveste-se de sustentável e terceiriza a agenda, numa parceria com o diabo, protegidos pelo evangelho mercantil; o maduro vira verde e vegetaliza o processo, sem o compasso estratégico do que vem a ser o amanhã, ávidos pelo poder escapado de ontem. Fazer o que ? Tem gente que está, do mesmo lado que você, mas deveria estar do lado de lá, tem gente que machuca os outros,tem gente que não sabe amar...
Há de se perguntar, responderemos com a mesma moeda ? Ou resguardamos a tutela para o povo, esse sim, sujeito da história a quem cabe tão somente exercer a condição de voz ativa ? O fato é que questões de credo, sexo, futebol, releases falaciosos devem ser atributos de quem saúda os milicos, a imprensa marron, e se sente dono da coisa pública : tem gente enganando a gente, veja nossa vida como está, mas eu sei que um dia a gente aprende.Se você quiser alguém, em quem confiar. Confie em si mesmo, quem acredita, sempre alcança...
Cabe-nos, apenas, sair as ruas, conversar com os amigos, celebrar o debate, nos bares, nas pontes, nas ruas, se amando, como diria o poeta , numa noite de Carnaval.
Uma vez iniciado o segundo turno, propaganda nas rádios, Bom Dia Brasil, Jornal da Globo, mensagens eletrônicas, exerceremos nossas potencialidades, fomentaremos a crítica, questionaremos as balas de prata, a notícia arranjada, socrateando a discussão de maneira que falará mais alto a verdade. Pois esta tem cor e sangra; tem roupa e sua; tem pele e é tua.
Nunca deixe que lhe digam, que não vale a pena, acreditar no sonho que se tem, ou que seus planos nunca vão dar certo, ou que você nunca, vai ser alguém...
Hoje, quando acordei, senti a força do meu sonho, da música que nunca mais ouvira, do verso de quem luta e alcança : era Renato Russo na veia. E por mais que os nossos inimigos se disfarcem cada vez mais, prevalecerão o sentido das chagas de quem tanto nos machucou. Pois, tem gente que machuca os outros, tem gente que não sabe amar.
Mas eu sei que um dia a gente aprende, e o coração é vermelho e bate do lado esquerdo.

domingo, 26 de setembro de 2010

Lei de Murphy, São Tomé e gatos pretos




Antes meus olhos estivessem envoltos dos 10 graus de miopia que tanto me marcaram época. No entanto, as ferramentas metodológicas e teóricas eram em sobras suficiências para o soterro trágico de um sábado de primavera. Senão vejamos:
Na despedida da madrugada, quando o sol iniciava o seu reinado na estação das flores, eis que a chuva não se fez de rogada e atravessou o enredo para uma bela manhã de sábado, primeiro prenúncio; subsumido pelo mundo etílico, fujo ao regrio e inicio meu périplo em busca de uma farmácia quando me vejo de encontro a dois gatos pretos, atravessando a Conde de Irajá com a José Bonifácio, exatamente no local onde organizávamos uma tarde majestosa, eivada de circuitos poéticos entre amigos.
Volto pra casa, já cabisbaixo e começa a tomar conta os monstrinhos esquizofrênicos, infernos alfarrábios de uma vida em constante estado de ebulição.
De bate pronto recorro a Murphy: "se algo pode dar errado, com certeza acontecerá". Por mais que a turma da terra das oferendas venha sem 8 titulares, jogamos em casa, a massa consumiu a proposta,porém, algo me dizia que tem boi na linha.
Driblei minhas convenções e fui para o boteco, de peito aberto, reunindo a confraria, até que, em lá chegando, entra uma porra de um post mortem, travestido em três cores, que tenho medo até de revelar a alcunha, pra não invocar os maus presságios. Mas o peste inventou de ficar de braços cruzados na porta do bar.
Chegam Lívia e Demétrio, fechando o grupo com Adriano e pra contrabalançar o veneno, arrefecem o caldeirão resflaviando o contexto. Tricolor sim, mas com cara de anjo, menos mal.
De proveitoso, a poesia do samba de Paulinho; de negativo, um dois a um recheado de azia na medida em que esquentavam o regado de cervas.
 Era preciso ver para crer, e eu, vi e previ, um dia de sábado, em tempos de primavera ,numa tarde inglória do imortal Leão da Praça da Bandeira, domado pelo espírito gravitacional de uma intrépida Lei de Murphy.

domingo, 15 de agosto de 2010

15330 dias a serviço da reificação

42 anos, 15330 dias, semanas pra caralho, que ás vezes tenho medo de olhar na janela do tempo, indo de encontro a tudo que já passei. A cada 13 de agosto, tamanha pressão do zodíaco, das superstições, da sáude e dos conflitos que dispõem a vida, terminei por desenvolver uma política de auto-monitoramento sobre a data, desviando-a das formalidades, mudando eventos, desfazendo agenda, e em alguns anos, recluso. Para Pascal (2008, p. 51), a única causa da infelicidade humana "é que ele não sabe como ficar quieto em seu quarto", ou seja, quando anda de um lado para o outro, não pensa.
Porém, por mais paradoxal que isso possa parecer, o fato é que, individualmente, nós resistimos; individualmente, eu caio. Esse ano estava precisando moldar minhas ações e celebrar essa data. Fazendo as devidas deferências ao meu candidato JP, iniciei os trabalhos às 13:33. Um golinho de leve, nas raízes, Afogados City, cada vez mais representativo ao universo pós-moderno, onde os indivíduos formam a sociedade ao rigor de suas próprias ações, marquei presença, passei incólume e consegui chegar na entrada da noite ao Bugaloo.
Já me dava por satisfeito, tudo transcorria num ritmo de ordem, equilíbrio que sentia falta. Reuni a melhor safra de amigos, num sincopado sistema de rodízio em que Rita, Mércia, Ana e João demarcaram espaço, num ritmo etílico ao melhor estilo Noel Rosa e Vinícius de Moraes.
Logo em seguida chegam Demétrio e Lívia, Viviane e Valmir, Karen, todos muito bem ensaiados, varrendo copos e pratos, impingindo marcas a uma data que me trazia a intimidade necessária.
Lá pras tantas, eis que chegam células dessa juventude diferenciada Léo, Paula e um casal de amigos, dando o toque de poesia e garra, abafados na geração 60 que representamos, para, juntamente com Sérgio Miguel, Júlia, Fernando e Amauri, edificarem a união que as diferenças portabilizam.
Em cada par, uma história, e a cada gesto, criava vidas e comandos numa atitude reificadora intrínseca ao meu exercício de vida. De todos aproveitei um pouco. Cornelius Castoriadis certa vez apontara que o erro das sociedades contemporâneas estava na falta de questionamentos, por ali tivemos em sobras, e que outros tantos venham, para que possamos criar um esteio na eternidade, dada a brevidade da vida.
 Já se foram 42 anos e vive o meu conjunto de hábitos e disposições, dessa forma, não poderia deixar que nossas marcas não tivessem testamentos, agradeço a todos, afinal, contamos os dias e os dias contam.

domingo, 13 de junho de 2010

Merica não quis ser Barnabé



De uns tempos pra cá, fazendo as devidas deferências ao senhor tempo, minhas idas e vindas ao mercado público de afogados foram reduzidas. E olha que em muito devo aquele locus na formação do meu cabedal de malícia de vida. Por ali vi de tudo.
Entretanto, foi numa leitura sobre uma coletânea de crônicas de uma jornalista gáucha, Eliane Brum, A vida que ninguém vê, que vi aquecida minha saudosa nostalgia de minhas raízes. Pois, Eliane nos revela tipos urbanos do sul do país que só interagindo para aproveitar de seus sabores.
Conhecesse essa gáucha como Inácio conhece, uma vez passando por aqui, levaria de imediato pra tomar uma no mercado, em lá chegando, depois de algumas cervejas, apresentaria o espaço Merica de ser.
O nome em si é demonstrativo da fauna que pertence, uma vez que, de tão feio, assemelha-se ao célebre volante do Leão da Praça da Bandeira.
Das 4 da madruga, recepcionando todo tipo de gente, até a meia noite, circulava com latas de água amenizando a imundície dos banheiros públicos por ali.
" Merica, Corno. De bate pronto, responde: corno de tua mãe". Até aí tudo corre na mais bela harmonia, entre uma ou outra lapada de cana, garantida pelas moedas depositadas numa caixa de papelão pregada na parede.
Tirá-lo do sério só testemunhei, quando um gaiato apontava: "Hum rum, Dr. Roberto Magalhães vai assinar sua carteira. De imediato, vomitava: vá vc e Roberto Magalhães tomar naquele lugar. Diga -se de passagem,  que tal verbete era dominante no seu cotidiano linguístico".
O homem virava uma fera, e entra prefeito e sai prefeito, a labuta era a mesma. Uma vez que, para Merica, servidor público era sinônimo de desonra e, para servir ao público não necessariamente se precisaria do jargão de Barnabé.
Segundo o Houaiss, Barnabé seria um funcionário público de modéstia importância. Para Mérica, homem simples, probo, pobre e incauto, Barnabé ou funcionário público, era tudo a mesma coisa e quisesse lhe fazer raiva o homenageasse com tal cerimônia.
Da porta do banheiro,onde dedicou a maior parte de sua vida em prol da comunidade do mercado, a distância era de cerca de 14 metros para o INSS, o acesso a autarquia alcançou na utilização das torneiras do órgão em tempos de racionamento de água no bairro.
Morreu enfartado, dentro do recinto, sem direito a pecúnia pública, mas eivado de ética, sendo esta o instituto de sua sobrevivência e de bem estar humano.

domingo, 2 de maio de 2010

A alegria pede passagem, o céu agradece



Minha cabeça já andava a mil quando da minha última consulta no Real Cor, pois os fatos passavam a ter poder de império. Como se não bastasse, depois de mais um dia de tensões no trabalho, minha mãe telefona: "Mataram Carlinhos da São Carlos, agora, no centro da cidade".
Travei, de imediato.
"Como? Não é possível".
Desliguei o celular e continuei dirigindo feito uma pica maloqueira. E por mais que não estivesse mais no mesmo lugar, a cada passo que dava, nada, mais nada, vinha em minha cabeça que justificasse tal infortúnio.
Voltei a ligar pra minha mãe, que, de bate pronto informou o óbvio : " bala perdida.
Foi meu filho. Tava feliz e tinha ido buscar o dinheiro que a prefeitura dava todo ano pra escola".
Muito embora venha numa luta incessante para encontrar respostas para a morte, em seu tempo e espaço,
não me faltam respostas quando ela vem de encontro a quem sela a paz. Outro motivo não seria que o protagonizado pelo acaso desse mundo incerto e inseguro.
Carlinhos se confundia com a alegria. Um ato seu era o recuo para um manifesto de raiva, quiçá um gesto de violência. Botava apelido em todo mundo:"chupão, Cara de Cú".
Nesse diapasão trilhava por frango, sapatão, ladrão, sambista, políticos, comerciantes, desocupados, pinguços, era o mago botar a cara na rua e o rasgo de sorrisos nas faces urbanas daqueles macunaímas desabrocharem.
De tão intenso não tinha a menor preocupação ou dimensão do seu valor na comunidade, sobretudo no mundo do samba. Digo mais, no universo da inclusão social sustentável.
Seu enterro, num domingo de chuva, terminou por registrar uma avassaladora massa humana, vinda de todos os cantos para se despedir do seu menestrel.
De todos os lados aparereceram voluntários: 10 ônibus, dezenas de coroas de flores, o Atlético Clube de Amadores tomado no ritmo do samba, em perfeita simbiose com seu maior desejo: "não chorem quando eu morrer, apenas cantem".
Apaixonado pelo Grêmio Recretivo Unidos de São Carlos, antes, Escola de Samba Caixão de Lixo, Carlinhos fazia de uma festa no barracão, uma ação de doação de alimentos, gerava empregos para a informalidade, resgatava  a cidadania e integrava seu povo num balé de sentimentos em prol do fundamento da vida.
Nas rodas de pagode, nos campinhos de pelada, no Coque, Vila São Miguel, Bomba do Hemetério, Bairro de São José, onde quer que aquela cara enrugada circulasse,com ele pedia passagem o samba, o Clube Náutico Capibaribe e o acúmulo de amizades, hoje, em condição de orfandade pela morte do seu diplomata.
As últimas notícias advindas do além, dão respeito de que acaba de se iniciar uma roda de samba regada a cervejas geladas, num encontro de bambas nunca antes revelados. Carlinhos acaba de chegar com um pandeiro nas mãos, de calça branca e é ovacionado pela ala de conselheiro Rosa e Silva, sendo saudado por Eládio de Barros Carvalho,Carlinhos latinha de doce, Cartola e Ziquirina, pois puxou um N-A-U-T-I-C-O.
De fato, por lá, a alegria pede passagem. O céu agradece.


 .

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Um cachorro chamado diploma

Seu Josias ou Coronel Josias, reza a lenda que do alpendre da Casa Grande, de frente à praça,em Simões, no Piauí,  estrategicamente, aquele cidadão de estatura baixa, fala mansa, marcou história nos anais da política local, construindo um legado, que em muito se distanciava dos modelos coronelistas de então. Sensível ao cumpadrio, promovia uma alteridade no exercício do poder; para a prole, um visionário, educação era o norte.
E nesse rumo, gostava de sentar na calçada e acompanhar a  partida dos filhos para Petrolina, Salvador, imersos na boléia dos Pau de Arara, andando léguas e léguas em estradas viscinais, inóspitas, onde tinha-se tempo para escrever um livro numa olivetti, pegar uma gripe e chegar curado.
E lá iam Avani, Joaquim, Abércio e Pedro de Josias. Os 3 primeiros bem encaminhados. Pedro, o primeiro na idade, e derradeiro nos estudos, não tinha a menor vontade de sair do mato. Portanto, iria, mas o levaria em seus rastros.
Chegando na Terra de Seu Quelé (Coronel Clementino Coelho, Pai dos Osvaldo, Paulo, Nilo e avô de FBC), coube a Avani encontrar uma escola que absorvesse a demanda de um aluno de 17 anos para alfabetizá-lo, isso em 1950, pasmem. No entanto, lá ia Pedro.
No primeiro dia, seguindo a trilha da roça pra escola, um assovio fifiuuuuuuuuuuu.
 De bate pronto, Pedro respondeu: "mato um".
 Avani tentando apaziguar, foi logo avisando: "é um viado Pedro, deixa pra lá".
No que ele retrucou."No dia que num conhecer um viado do mato, era um pederasta mesmo, atiro na boca dele e enfio a espingarda no rabo".
Pro primeiro dia, deu pro gasto. Na escola, a professora disse: " vamos estudar adjetivo".
Eis que Pedro questionou: "o que é adjetivo ? Vem de onde ? E porque qualidade se nem conheço ? e quem viu ou prova ?  E essa foi a tônica, de um semestre digno da melhor análise paulofreiriana.
O resultado final, apontou para o encerramento de um ciclo.A professora tratou de chamar os irmãos e disse: "tem condição não".
Na saída da escola, buscando-se o resgate da auto-estima. "Pedro vamos tomar sorvete". Lá chegando, o bicho fumaçando, não conhecia gelo, trincou nos dentes, cuspindo-o longe.
 Ganhava o diploma. A volta pra casa foi adiantada e graduado em seis meses, semelhante aos profissionais de pós-graduação dos idos atuais. O homem tava na frente dos tempos.
 No dia do retorno, apaixonou-se por um cachorro vira lata, pé duro, jogou em cima do caminhão e trouxe a reboque , descendo a serra com o bicho no colo, depois de ter cagado e urinado o trajeto todinho.
Seu Josias, todo prosa,  cerimonioso, não se fez de rogado:
" Pedro, sabia que não ia me decepcionar; os outros meninos, gastam mais e demoram 4 anos pra se formar. Pedro demorou pra ir, porém em 6 meses, volta formado e ainda trás um diploma ".
Depois dos agraciamentos paternos, o diploma teve vida curta e não chegou a ser registrado, morto pela condição de arquivo.

domingo, 28 de março de 2010

Na estrada da vida, o mote é ser feliz

Como todos ou tudo que pensa, e, como diria o poeta, tenho fases, fases como a lua, fases de ser sozinho, fases de ser só sua. A "sua" da vez é indubitavelmente a felicidade. Nos idos atuais venho transitando entre o Estuário, de Samarone, o Caótico de Inácio, o Blog de Nassif, e a pós-modernidade de Bauman, o que sai disso tudo, às vezes, faz com que não sente perto da janela do meu apartamento. Muito embora, tenha tela.Mas, eis que vem a porra dos Nardoni resgatar meus monstrinhos. De positivo, vem as teses de Pascal, recomendando um recolhimento ao quarto, e fomento a arte de pensar, antes de agir. Tenho tido lucros, mas não fujo dos conflitos urbanos,trabalhistas, ideológicos e futebolisticos nem com a porra, uma vez que tem um negócio dentro de mim, que nem catimbozeiro, espírita ou intelectual do cefish da UFPE conseguem definir. Fazer o que? Bola pra frente. O mote é esse. E nesse diapasão, sigo com umas cervejinhas, peladas, cinemas, debates, tuiteres  e as misérias da felicidade, convicto de que é na busca pela alegria que faz as dores valerem a pena.

Quando se é feliz



."Pai, eu posso". Não. Por que não? E aí, tome discussão Socrática, banqueteando o debate. " Mãe, fui segundo na eleição pra representante ". " Mas, nem pude fazer campanha, estive doente, faltei ". Por mais incertos e inseguros com a liquidez da vida, é nessas horas que encontramos a felicidade,ilustrada nesses resultados. No desafio da arte da vida a luta pelo alcance da felicidade cada vez mais nos põe de frente ao horizonte. Como se cada passo que damos, obstáculos serão nossos guias. Nesse sentido, é fato inconteste a plenitude de minha felicidade em poder acompanhar o crescimento de minha prole.Por mais que não tenhamos a concretude do ideário do "Super-Homem"protagonizado por Niestchze, capazes de nos potencializar através de uma auto-afirmação que nos leve a um controle imaculado sobre nós mesmos, em muito nos satisfaz quando passamos a testemunhar a insurgência de um genuíno ser dotado de retidão, sensibilidade, afeto, criticidade e  apelo democrático. Vinícius vem numa crescente, olhando pros lados, pra dentro, pra frente, adaptado a inexorável condição de ser feliz, agindo. Na escola, em casa, entre os amigos, na formação de uma leitura do mundo. Anula o que não compreende, concilia em prol do todo, questiona regras, reconhece o zelo dos pares, e é todo prosa no arranjo da vida. A nós cabe impedir que nossas fraquezas e indisposições do passado, cerceiem o direito de planejar um novo início, passando incólume no processo de formação, podendo assim, completar e expandir o nosso projeto de felicidade.Quando se é feliz, tendemos a deixar marcas, e as nossas se confundem com o sucedâneo de nossa semente filial, onde permitir a edificação de suas obras de arte será o selo de nossas conquistas. Vida longa Vinícius. 11 anos. Dia 02 de abril nos aguarda.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Crônica de uma derrota anunciada

A foto acima traz o registro do tempo em que havia unidade entre as forças progressistas no Estado, uma vez que o interesse era único: consolidar o processo democrático.De lá para cá, derrotas foram anunciadas de ambos os lados, todas em consequência de projetos político-pessoais que comprometiam a égide do poder.
Hoje, Arraes partiu pra outra e, caso não venha a ser mais um lampejo da ascética imprensa nacional, saudosa dos coronéis eletrônicos -leia-se a enfadonha camarilha de Serra e Jarbas - ou, o que se circula por aí, pode ser um prenúncio para uma virada histórica em Pernambuco, comprometendo a sólida estratégia de consolidação do nome de Dilma no cenário nacional. Traduzindo, uma vez que a coalizao de forças que sustentam o governo em nosso Estado caia na indolência de lançar o Secretário das Cidades,  representante das forças conservadoras do partido dos trabalhadores para o senado - o  ex-ministro da saúde Humberto Costa - basta tão somente uma imersão na planície por parte do coeso grupo que representa João Paulo, coletivo este com intensa participação nos movimentos sociais, terceiro setor e com o respaldo político-eleitoral dado pela população, sobretudo na região metropolitana, que, por gravidade, resgata-se o discurso do alto astral, que pode levar os progressistas a uma derrota histórica movida pelo ranço das picuinhas palacianas, absorvido pelo hedonismo da outrora unidade na luta.
Quando as pesquisas apontam para o soerguimento de Dilma e uma confortável vantagem de Eduardo,  em dobradinha com Armando e João Paulo, eis que a história com seus atores apresenta suas farsas, gerando incerteza e insegurança a quem tem compromisso com o zelo do bem público. Fica o registro e jogo minhas fichas, só nos resta acompanhar o desdobramento dos fatos.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O futebol explica o Brasil, o jornalismo não mais

O meu prazer pela leitura é fruto da umbilical relação que meu pai tinha para com os periódicos quando em vida. Lembro de Chico jornaleiro, diariamente, às 6 da manhã, estacionando com sua bicicleta para entregar o Diário de Pernambuco. Como o tempo era curto - acordava com o freio do seu transporte e recepcionava o matutino - manifestando interesse pelo Caderno Viver e pela página de esportes, antes que meu idolatrado pai o carregasse em baixo dos braços no destino da CEPE. Através desse prazeroso vício literário, hoje posso lembrar do desmaio de Mauro estampado em 1977, na primeira página, depois de ir dormir por volta de 3 horas da manhã, com o grito de gol  do saudoso Ivan Lima, registrando o título do Leão da Ilha, após um ciclo de prorrogações que comprometiam a condição humana de jogadores, jornalistas e torcedores.Lamentavelmente, o que antes tanto contribuíra no processo de consolidação dos valores éticos, políticos e intelectuais de uma família, munidos pelas matérias, artigos de jornalistas focados numa política de comunicação investigativa, não obstante transitarmos pela égide de uma ditadura perversa, o que hoje observamos nos deixa incrédulos. Não que devamos nos posicionar como dinossauros renunciando as ofertas tecnológicas do mundo moderno, avassalador em suas ferramentas de comunicação contínua. Mas, é sobretudo  na falta de compromisso com o pensar, dentro de uma perspectiva crítica e eivada de conteúdos que já não consigo enxergar o zelo de outrora para com as notícias. Não tenho mais ouvidos pars escutar as enfadonhas resenhas esportivas, os textos formais dos cadernos de esportes são cansativos, onde o que hoje se defende, amanhã é negado com a maior sutileza dos desinformados; paradoxalmente, foi na prateleira da Cultura que encontrei um trabalho de pesquisa de um jornalista paulista,, Marcos Guterman -  O futebol explica o Brasil: uma história da maior expressão popular de um país - , apaixonado como eu e mais 140 milhões de brasileiros pelo futebol, que recomendo aos apaixonados pelo esporte bretão, pois o cara viaja numa perspectiva polissêmica procurando compreender as amarras do futebol com a formação sócio-cultural  do nosso povo, meio que na linha de Caio Prado Jr e George Orweel. Vale a pena conferir, por enquanto, sigo no segundo capítulo, em breve, provocarei um debate com vozes e vezes em aberto.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Traços, retratos e esculhachos de um Carnaval lúdico ll

Onde foquei,  presenciei a marca de um Carnaval em paz, sem o peso da hipocrisia do comércio de camisas alusivas ao tema. Galo da Madrugada, Recife Antigo, pólos, internet e o atraso dos periódicos, nada reproduz a contra-regra dos ritos de violência que mancham espetáculos.Em cada riso uma foto, a cada beijo mais um flash,mas vem do estado de espírito de um povo que absorveu o bom zelo dos atores públicos, que o reinado de momo atuou como registro para a coexistência pacífica na Terra do Frevo.Como é da gênese desse fenômeno de massa, os escrachos e esculhachos sinalizaram para a égide sócio-política, passando por Arruda, Serra, Dilma, sem deixar de lado os nativos dos Joãos. Fantasias de Judas, Caim, banheiro móvel, Lilis (mais uma vez não chegou), bem como os enxertos da pós-modernidade, garantiram presença em um Carnaval multifacetado, onde a alegria foi soberana. Pra variar o gosto de quero mais já é trava na boca dos foliões; como recompensa levaram os amores, promessas, fantasias e a certeza de que nesse mundo inseguro, anômico e niilista, é possível ser feliz no reencontro com a arte da vida manifesta nos mais belos gestos de um Carnaval que só Pernambuco tem.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Traços, retratos e esculhachos de um Carnaval lúdico l

Muito embora, hoje, ainda seja segunda-feira momesca - e muita coisa ainda está pra acontecer - arrisco-me a revelar o testemunho de um dos carnavais mais singelos, poéticos e seguros dos últimos tempos. Iniciei o mesmo com as devidas deferências ao sítio matriz olindense, onde transitei por Pitombeiras em seus ensaios antológicos, saudei os maracatus, marquei o passo no Amparo, e na trilha do bem viver me vesti de saudades. Seguindo seu ritmo, fui ao Baile Municipal e adquiri a carteirinha de folião recifense, uma vez que nunca tinha ido a eminete marca do Carnaval recifense em sua epopéia humana.Confesso que não vejo nada de errado em ser feliz e - Carnaval é arte e nos oferece o sentido desse concerto - em que pese sua condição efêmera.Senão vejamos: velhos amigos( passei por Demétrio, Guilherme, Rinaldo);amigos novos(Fernando,Rubão, Ana Augusta),  vivi a vida de frente e de costas, não feri o bom senso, alimentei-os de riso, e assumi uma responsabilidade individual para com a liquidez humana . Confesso que cansei, 125 kg já não respondem as instigações do alter ego, mas no traço, retraço e esculhacho desse  ciclo momesco, sinto-me recompensado. Bem aventurado quem vive no Recife, pois ao acordar, ouve os clarins; saindo de casa, enxerga um mascarado; e ao se cansar traz consigo os ritos, passos e descompassos de um povo que ferve ao som do frevo e extravasa emoções num balé sincopado de emoções.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Eu não vou, vão me levando



Em que pese o desgaste do sábado no seu rito de peladas regadas a cervas, o domingo pedia celebração. De morada na Torre, minha mulher radiante, e Ana nos convocando pro ensaio de Pitombeiras: segui o ritmo do frevo, eu não vou, vão me levando. Lá chegando, Ana desenrolou logo uma mesa, fez as vezes da casa, revela um frevo em seu nome, e nos conquista com seus gestos. Ponto pra nós, elevamos nosso patrimônio com o que tem de melhor: gente.Faço minhas recorrências aos tônicos anti-ressaca, cavalinho com fritas; os músicos afinam os instrumentos fon fon, tun tun turutu, paranran, um maestro vaidoso, pasta nuggets no cabelo,e as famílias espalhadas nas mesas, em pouco tempo ocupadas no que ainda restava.Uma incipiente análise sociológica ressaltaria a despeito da sinergia dos abnegados - devidamente dispostos numa comunhão de classes sociais - onde a perspectiva ontológica do frevo formava a identidade.Eis que Lessa, o maestro, apitou: priiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiuuuuuuuuuuu. Começou o ensaio, tattatatatatactara panpanpanranpanpanran, frevos de bloco, frevos canção, e os confrades a se espalhar pelo  acanhado salão formam um balé de passos, ritos e descompassos, na estética da maior expressão popular do mundo.Em seguida, o estandarte do amor pede passagem - chegam Demétrio e Lívia - peço uma dose,eles cerveja,coca e água pras meninas, faço minhas deferências ao passo, Ana registra com fotos e forma-se uma rede de afetos, poesias e hábitos do bem viver , pedindo passagem a antologia dos mais belos carnavais. Voltamos pra casa em perfeita simbiose com o poeta: não temos tempo pra mais nada, ser feliz nos cansa.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Desatando nós


Comecei o ano do jeito que terminei 2009, fugindo das convenções dos festejos. Dia 31, como no Natal, fiz minha imersão etílica - por mais convencional que seja no âmbito das minhas rotinas -investi no desate dos nós, na seguinte ordem: paguei o que podia ser pago, assumi outros compromissos, dediquei espaços a minha mudança pra Torre e não fui à praia. Rompi com minha praxe.Senti um certo peso na consciência por não fazer minhas oferendas altruístas. Pensei no passado, agradeci pelo presente de está vivo e na labuta, olhei pro futuro, e no meu íntimo, pedi forças na fé pra superar minhas limitações, investi numa dieta e não reagi de maneira açodada perante os conflitos da vida.Sinto-me mais maduro, o que é indispensável para a evolução do ser. Estou mais contido, já falo em primeira pessoa, e bati estacas no combate à exclusão. Tirei proveito conjugais da poética chuvinha no primeiro dia de 2010, dediquei-me à leitura, e venho resistindo aos convites do astro rei em prol de uma praia na base da cerva. Sinceramente, num sei onde isso vai dá, hipocondríaco que sou, preciso fazer opções, nem que seja me libertando dos carboidratos noturnos, regados a caminhadas nem um pouco prazerosas. Por enquanto, tiro proveito de entrar mais um ano com a cabeça fresca, feliz, disposto e focado no amor como combustível inexorável para encontrar sentido na vida. Algo parecido com o revoar dos pardais no amanhecer do dia, em frente a janela do meu apartamento, o qual já sinto saudades por ter que deixá-lo em minhas memórias.

Meninos não choram ll


Até que enfim, tempo.E useiro e vezeiro do mesmo, tenho de reconhecer a indispensável necessidade de tornar mais robustos os dias, horas, ampliando o calendário, uma vez que a sociedade jogou a toalha para os enfrentamentos revolucionários.Nesse sentido, em muito se confunde minha inciativa em mergulhar pela obra de Jesus Izquierdo, Meninos não choram.Curiosidade é fartura quando busco conhecer tudo aquilo que retrata uma negação da ordem dominante. Fico a me perguntar, será que neguinho se enclausura num barraco de favela pra enrolar pó e fumo porque acha bacana? Por que será que os cubanos preferem o isolamento a bancar o adesismo ao imperialismo de Tio Sam? E os assaltos a ônibus as margens do São Francisco, de dia e de noite, será que o homem do campo a isso se submete porque tem alergia a veneno de uva? De passagem pela Cultura, eis que me encontro com a pérola: Meninos não choram. Numa linguagem multifacetada, polissêmica, o cara assume o propósito de compreender o que ele define como habitus guerrilheiro nas FARC - EP(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército do Povo).Isto posto, termina por retratar o exercício de uma cultura beligerante, patrocinada pelo Estado que, não mede esforços em atirar, espoliar, expropriar na perspectiva de contemplar os interesses de latifundiários, milicos e do imensurável capital transnacional que se apropriou de todas as riquezas colombianas. Como bichos acuados, inexoravelmente, o povo colombiano fora conduzido para as montanhas, para as margens da floresta, desprovidos de quaisquer gesto público indicativo do reconhecimento estatal.Dessa forma, entre aceitar a miséria oficial e lutar contra a exclusão em prol de um ideário totalitárista, revolucionário, nenhuma outra escolha foi ofertada aquela massa de excluídos, senão pegar em armas, garantindo alimentos, proteção, nivelamento e uma perspectiva de sonhar com transformações estruturais.Entre dormir e acordar sem ser reconhecido; faz-se opção por pegar em armas enfrentando o inimigo, no afã de alcançar condições elementares para coexistir. Entre o fosso da liberdade comprometida e não ser sentido como incluso a uma coletividade, fala mais alto o espírito aventureiro, materializado nas armas, na disciplina, no rigor de uma ordem bélica, mas capaz de enxergar no outro a indispensável condição para ser sujeito de uma perspectiva revolucionária, em que pese a negação ontológica dos valores humanos.