sábado, 31 de dezembro de 2011

Diga-me Sr. Prefeito: sua candidatura é pra valer ?

Na tira que ilustra o texto, o faceiro Garfield, aclamado no mundo todo pelas suas peripécias,num diálogo em prol da alteridade, vê lançado sobre si uma interrogação onde a tradução vem a calhar com o imbróglio : Diga-me, Garfield, quando você anda, suas patas da esquerda e da direita se movem juntas, ou você usa as patas opostas? _ Eu nunca mais vou andar.
Como o leniente gato - os senhores prefeitos observados nas linhas desse texto -, não sabem pra onde andam e se ainda continuaram seus périplos.
Ao que nos parece, na insólita Simões (PI), bem como na alvissareira Recife (PE), o sono perturba ambos os prefeitos, incansáveis na travessia de reverter quadros adversos por eles mesmos criados nos 4 anos de gestão.
Edilberto de Abdias (PSB) e João da Costa (PT), também encaixam a calhar na fábula de Frankstein, onde a criatura se volta contra o criador, sendo este responsável por parir um monstro.
No entanto, é sobretudo na Teoria dos Conflitos,tão bem abordada por Marx que encontramos o achado teórico que tanto atormenta esses dois senhores : pois, a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. Vem do peso das consequências de se forjar a história o assolo dos fantasmas na cabeça desses dois atores dos processos políticos em suas respectivas esferas municipais.
Se for possível ao Sr. Edilberto e ao Sr. João da Costa convencer o povo de que ali estão por meritocracia, sendo suas respectivas gestões aprovadas nas ruas, bom proveito. O que se observa, entretanto, é que assim como Garfield, quando inquiridos, ambos candidatíssimos sequer sabem se seus passos se movem juntos com a coalizão de forças que os elegeram, assim como, se conseguirão sequer chegar nas convenções, em junho de 2012.
João da Costa dorme com seu pesadelo porque, paradoxalmente, quem vendeu o "João é João", hoje negocia a alma com o diabo para tirá-lo do jogo; Edilberto - por questões de direito, uma vez que não ouviu o pleno do TRE, nem consultou juristas, verdadeiros pais da matéria para saber se pode ser candidato, como se não bastasse tem o exemplo na família, onde o irmão, Dr. João Batista, no desmonte dos palanques, teve sua candidatura cassada, quando disputava contra o próprio Edilberto.
Diante desse quadro, é na recorrência do achado de Karl Marx, a despeito da tentativa do golpe de Estado patrocinado por Luís Bonaparte, o propalado 18 de Brumário, para numa breve análise histórica, apreendermos que “os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”.
Ou seja: apesar de serem sujeitos de suas odisséias, as pessoas só são capazes de agir nos limites que a realidade impõe. Dessa forma, tanto Edilberto como João da Costa, vão ter de colher no presente, as contraditas do passado, sendo a engenharia dos pequenos acordos, que tanto deram as costas na condução dos seus mandatos a palavra de ordem, impedindo que um dia o que foi tragédia vem a se reverberar como farsa, sendo o povo o alforje do poder.
Vale a pena conferir, por enquanto, podemos dizer que tontos estão, ficando no mesmo lugar, engessados pelos gestos do passado, tendo que enxergar Valdeci (PP), em Simões, e, João Paulo (PT), no Recife, como verdadeiros líderes de massa, um dia seus criadores; hoje, vitimados pelas próprias criaturas.



domingo, 4 de dezembro de 2011

O homem que não dizia não



Enquanto descia aquela serra açoitada pelos rigores da seca, guardo bem na lembrança a tentativa de meu primo Ernandes, para muitos, Dr. Salomão, de resgatar um sorriso em comum, tendo visto minha cara de poucos amigos, emputecido com a ideia de meus pais de me levarem para o exílio, nas brenhas do Piauí, motivados pelas insurgências pequeno-burguesas que teimavam em moldar minha formação.
E olha que Ernandes se esforçou. Apontava pra caatinga, na beira da estrada, vegetação escaldando pela impiedosidade da seca e dizia :
" Tá vendo aquele fogo ali no mato ? Pé de fogão brotando. E eu caía na risada. Deixa que era o último suspiro do sertanejo brocando roças."
Mais adiante, uma avoante, hoje, tão rara, pela matança desordenada que marcou época nesse sertão de Severinins. E la vinha Ernandes, sempre gostei mais dessa tratativa :
"Olha lá Júnior, um pé de avião." O pior que eu ria.
Chegamos na casa do hospitaleiro Zé Bernardo. Sua mulher, Marli, irmã de Ernandes, recebia a condição de prima de minha mãe, mas que, no fundo, poder-se-ia dizer que, na alma, tratava-se de duas irmãs. Minha mãe e Marli são identidades, retratos emblemáticos da história de famílias de sertanejos que o maior legado tá no sofrimento de sua romarias.Mulheres guerreiras. Oriundas da mesma serra, Modesto no sobrenome, rosários de alegria.
Mais adiante, o que para muitos não passava de um castigo; para mim, virou um paraíso minhas férias em Simões. Contava os dias. Recorria as cartas. E fui pegando gosto pelo que o sertanejo tem de melhor, sobretudo o piauiense : sua condição de gente.
Zé Bernardo, funcionário das Indústrias Coelhos, teve que ser transferido para o sertão da Bahia.
De coração partido, fui alvo do destino sendo acolhido na casa do então Prefeito da cidade : Abércio Josias de Carvalho. Graças a amizade, que virou compadrio, formada com seus dois filhos, Zezinho e Murilo.
Meu pai, já sem discurso, preocupava-se. Conhecedor de política e sabedor das benesses do poder, comentava com minha mãe :
"Pronto, agora é que o menino vai se aburguesar mesmo." Ledo engano.
Aquele homem que acordava cinco horas da manhã, vestido numa calça de linho, incrivelmente alheia ao desgaste da dormida numa rede posta na cozinha de sua casa, de baixa estatura, fala mansa, educado, de fino trato, olhares profundos, investido na nobre missão de dedicar sua vida a serviço de um povo, comportou-se em vida como o avesso do avesso do avesso a tudo aquilo que marca a cultura patrimonialista nesse país.
Quando dizia a meu pai que, aquele homem deificado pelo seu povo,duas vezes prefeito, vice-prefeito, não tinha sequer um carro, nem nunca teve, ele duvidava.
Certa vez, movido pela inquietude de um de seus parentes, insatisfeito com a maneira deselegante com que era tratado por algumas vítimas da seca, dentro de sua própria casa,uma vez que despachava dentro do seu lar, recebeu a seguinte missiva :
"Pegue o FPM, de novembro e dezembro, divida entre os seus, pois o povo é ingrato. De bate pronto,
respondera : o dinheiro é do povo e é para eles que sirvo".

 

 E seguira em frente, sempre solicito, altruísta, um Dom Quixote, que como tal, assim fez cabo da história: “aos cavaleiros andantes não pertence averiguar se os afligidos, acorrentados e opressos...vão pelas estradas por suas culpas, ou por serem desgraçados... só lhe cabia ajudá-los como necessitados
Passados 15 anos de sua morte, num gesto ímpar da vereadora Rúbia Moura de Carvalho, sancionado pelo atual prefeito, Edilberto de Abdias, o poder público de Simões acaba de fazer justiça dando nome a praça pública localizada em frente a casa de sua esposa, Terezinha Bento de Carvalho, onde, em vida, Dr. Abércio dedicou toda sua trajetória para exercer a missão de nunca dizer não ao povo de sua cidade.
Como diria João Cabral de Melo Neto, com a galhardia de um Severino, que como não tenho outro de pia, Abércio Josias de Carvalho, por aquela freguesia, abençoada por São Simão, demarcou tempo e espaço, para conservar viva a memória de seu povo.