segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Eu não vou, vão me levando



Em que pese o desgaste do sábado no seu rito de peladas regadas a cervas, o domingo pedia celebração. De morada na Torre, minha mulher radiante, e Ana nos convocando pro ensaio de Pitombeiras: segui o ritmo do frevo, eu não vou, vão me levando. Lá chegando, Ana desenrolou logo uma mesa, fez as vezes da casa, revela um frevo em seu nome, e nos conquista com seus gestos. Ponto pra nós, elevamos nosso patrimônio com o que tem de melhor: gente.Faço minhas recorrências aos tônicos anti-ressaca, cavalinho com fritas; os músicos afinam os instrumentos fon fon, tun tun turutu, paranran, um maestro vaidoso, pasta nuggets no cabelo,e as famílias espalhadas nas mesas, em pouco tempo ocupadas no que ainda restava.Uma incipiente análise sociológica ressaltaria a despeito da sinergia dos abnegados - devidamente dispostos numa comunhão de classes sociais - onde a perspectiva ontológica do frevo formava a identidade.Eis que Lessa, o maestro, apitou: priiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiuuuuuuuuuuu. Começou o ensaio, tattatatatatactara panpanpanranpanpanran, frevos de bloco, frevos canção, e os confrades a se espalhar pelo  acanhado salão formam um balé de passos, ritos e descompassos, na estética da maior expressão popular do mundo.Em seguida, o estandarte do amor pede passagem - chegam Demétrio e Lívia - peço uma dose,eles cerveja,coca e água pras meninas, faço minhas deferências ao passo, Ana registra com fotos e forma-se uma rede de afetos, poesias e hábitos do bem viver , pedindo passagem a antologia dos mais belos carnavais. Voltamos pra casa em perfeita simbiose com o poeta: não temos tempo pra mais nada, ser feliz nos cansa.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Desatando nós


Comecei o ano do jeito que terminei 2009, fugindo das convenções dos festejos. Dia 31, como no Natal, fiz minha imersão etílica - por mais convencional que seja no âmbito das minhas rotinas -investi no desate dos nós, na seguinte ordem: paguei o que podia ser pago, assumi outros compromissos, dediquei espaços a minha mudança pra Torre e não fui à praia. Rompi com minha praxe.Senti um certo peso na consciência por não fazer minhas oferendas altruístas. Pensei no passado, agradeci pelo presente de está vivo e na labuta, olhei pro futuro, e no meu íntimo, pedi forças na fé pra superar minhas limitações, investi numa dieta e não reagi de maneira açodada perante os conflitos da vida.Sinto-me mais maduro, o que é indispensável para a evolução do ser. Estou mais contido, já falo em primeira pessoa, e bati estacas no combate à exclusão. Tirei proveito conjugais da poética chuvinha no primeiro dia de 2010, dediquei-me à leitura, e venho resistindo aos convites do astro rei em prol de uma praia na base da cerva. Sinceramente, num sei onde isso vai dá, hipocondríaco que sou, preciso fazer opções, nem que seja me libertando dos carboidratos noturnos, regados a caminhadas nem um pouco prazerosas. Por enquanto, tiro proveito de entrar mais um ano com a cabeça fresca, feliz, disposto e focado no amor como combustível inexorável para encontrar sentido na vida. Algo parecido com o revoar dos pardais no amanhecer do dia, em frente a janela do meu apartamento, o qual já sinto saudades por ter que deixá-lo em minhas memórias.

Meninos não choram ll


Até que enfim, tempo.E useiro e vezeiro do mesmo, tenho de reconhecer a indispensável necessidade de tornar mais robustos os dias, horas, ampliando o calendário, uma vez que a sociedade jogou a toalha para os enfrentamentos revolucionários.Nesse sentido, em muito se confunde minha inciativa em mergulhar pela obra de Jesus Izquierdo, Meninos não choram.Curiosidade é fartura quando busco conhecer tudo aquilo que retrata uma negação da ordem dominante. Fico a me perguntar, será que neguinho se enclausura num barraco de favela pra enrolar pó e fumo porque acha bacana? Por que será que os cubanos preferem o isolamento a bancar o adesismo ao imperialismo de Tio Sam? E os assaltos a ônibus as margens do São Francisco, de dia e de noite, será que o homem do campo a isso se submete porque tem alergia a veneno de uva? De passagem pela Cultura, eis que me encontro com a pérola: Meninos não choram. Numa linguagem multifacetada, polissêmica, o cara assume o propósito de compreender o que ele define como habitus guerrilheiro nas FARC - EP(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército do Povo).Isto posto, termina por retratar o exercício de uma cultura beligerante, patrocinada pelo Estado que, não mede esforços em atirar, espoliar, expropriar na perspectiva de contemplar os interesses de latifundiários, milicos e do imensurável capital transnacional que se apropriou de todas as riquezas colombianas. Como bichos acuados, inexoravelmente, o povo colombiano fora conduzido para as montanhas, para as margens da floresta, desprovidos de quaisquer gesto público indicativo do reconhecimento estatal.Dessa forma, entre aceitar a miséria oficial e lutar contra a exclusão em prol de um ideário totalitárista, revolucionário, nenhuma outra escolha foi ofertada aquela massa de excluídos, senão pegar em armas, garantindo alimentos, proteção, nivelamento e uma perspectiva de sonhar com transformações estruturais.Entre dormir e acordar sem ser reconhecido; faz-se opção por pegar em armas enfrentando o inimigo, no afã de alcançar condições elementares para coexistir. Entre o fosso da liberdade comprometida e não ser sentido como incluso a uma coletividade, fala mais alto o espírito aventureiro, materializado nas armas, na disciplina, no rigor de uma ordem bélica, mas capaz de enxergar no outro a indispensável condição para ser sujeito de uma perspectiva revolucionária, em que pese a negação ontológica dos valores humanos.