domingo, 15 de agosto de 2010

15330 dias a serviço da reificação

42 anos, 15330 dias, semanas pra caralho, que ás vezes tenho medo de olhar na janela do tempo, indo de encontro a tudo que já passei. A cada 13 de agosto, tamanha pressão do zodíaco, das superstições, da sáude e dos conflitos que dispõem a vida, terminei por desenvolver uma política de auto-monitoramento sobre a data, desviando-a das formalidades, mudando eventos, desfazendo agenda, e em alguns anos, recluso. Para Pascal (2008, p. 51), a única causa da infelicidade humana "é que ele não sabe como ficar quieto em seu quarto", ou seja, quando anda de um lado para o outro, não pensa.
Porém, por mais paradoxal que isso possa parecer, o fato é que, individualmente, nós resistimos; individualmente, eu caio. Esse ano estava precisando moldar minhas ações e celebrar essa data. Fazendo as devidas deferências ao meu candidato JP, iniciei os trabalhos às 13:33. Um golinho de leve, nas raízes, Afogados City, cada vez mais representativo ao universo pós-moderno, onde os indivíduos formam a sociedade ao rigor de suas próprias ações, marquei presença, passei incólume e consegui chegar na entrada da noite ao Bugaloo.
Já me dava por satisfeito, tudo transcorria num ritmo de ordem, equilíbrio que sentia falta. Reuni a melhor safra de amigos, num sincopado sistema de rodízio em que Rita, Mércia, Ana e João demarcaram espaço, num ritmo etílico ao melhor estilo Noel Rosa e Vinícius de Moraes.
Logo em seguida chegam Demétrio e Lívia, Viviane e Valmir, Karen, todos muito bem ensaiados, varrendo copos e pratos, impingindo marcas a uma data que me trazia a intimidade necessária.
Lá pras tantas, eis que chegam células dessa juventude diferenciada Léo, Paula e um casal de amigos, dando o toque de poesia e garra, abafados na geração 60 que representamos, para, juntamente com Sérgio Miguel, Júlia, Fernando e Amauri, edificarem a união que as diferenças portabilizam.
Em cada par, uma história, e a cada gesto, criava vidas e comandos numa atitude reificadora intrínseca ao meu exercício de vida. De todos aproveitei um pouco. Cornelius Castoriadis certa vez apontara que o erro das sociedades contemporâneas estava na falta de questionamentos, por ali tivemos em sobras, e que outros tantos venham, para que possamos criar um esteio na eternidade, dada a brevidade da vida.
 Já se foram 42 anos e vive o meu conjunto de hábitos e disposições, dessa forma, não poderia deixar que nossas marcas não tivessem testamentos, agradeço a todos, afinal, contamos os dias e os dias contam.