sexta-feira, 3 de agosto de 2012

E ainda falam em desenvolvimento: Simões (PI) e Venturosa (PE), o joio e o trigo.




Estava meio cansado. Estado de férias, é assim. No entanto, o que tem a seca de ser devastadora, tem a safra politica de ser farta em infortúnios.
- Quando vi o estrago, perguntei, mas o que foi desta vez ?
- Foi o prefeito que decidiu.
Sem uma placa alusiva ao custo da obra. Sem que a população fosse informada.Sem que houvesse qualquer inversão de prioridade a contemplar o interesse dos desvalidos, tão massacrados pelos assombros da seca - decididamente, das mais devastadoras das últimas décadas, o que ali se vê, não se consegue definir; para alguns, são as conjecturas do "desenvolvimento local".
Como se não bastasse, cerca de quinze dias a concessionaria de energia cortara a luz da prefeitura.
De imediato nos vem a cabeça, mais cem mil reais jogados fora.
Ao invés de investir na periferia - como no próprio campo de futebol, construindo espaços sociais de lazer e cultura, pequenas arenas de interação social, integrando comunidades subsumidas a condição de excludentes, pelo visto, lá vem mais bares.
Na lucidez de Boaventura Santos assim inquietamos, "A autoflagelação é a má consciência da passividade, e não é fácil superá-la num contexto em que a passividade, quando não é querida, é imposta. Estamos a ser agidos."
Enquanto isso, conforme observou o jornalista, consultor da UNICEF, Inácio França, em Venturosa, sertão pernambucano é assim:
" Em Venturosa, a academia foi construída longe dos olhos da classe média local e dos motoristas que passam pelas duas estradas que se cruzam na cidade e a dividem em quatro pedaços.
A secretária de Educação, Sônia, respondeu sem demonstrar ter interpretado mal o motivos da minha curiosidade:
- Foi o prefeito que decidiu o local.
O “local” é a Vila Bacurau, 200 casas populares construídas pelo Governo Federal e inicialmente ocupadas por moradores da cidade que viviam em barracos ou casas de taipa. Muitos deles já passaram a casinha adiante, “vendendo” seu direito de uso para famílias de migrantes.
O lugar é um barril de pólvora a ameaçar a paz de Venturosa. Um ajuntamento de 200 famílias que sequer se conheciam é diferente de comunidades formadas por gente que convivem há gerações.
Além disso, há crianças. Centenas delas. Só a pastoral da criança acompanha 550 com idade máxima de seis anos. Todas moram na vila ou na Rua Nova, nome da comunidade vizinha e conhecida por ser a área mais carente da cidade até a ocupação da vila Bacurau com dinheiro do PAC.
E crianças crescem.
Esta é a razão de ser da escolha do prefeito. Dentista, cirurgião buço-maxilar para ser exato, ele não tem qualquer formação, militância ou experiência na área social, mas sabe – ou intuiu – que é preciso criar espaços de lazer e de convivência para que evitar que a Bacurau se transforme numa versão reduzida das favelas das capitais.
A academia foi construída a meio caminho entre duas escolas, uma mais antiga que foi ampliada na tal Rua Nova e outra novinha, construída na mesma época em que o novo bairro ganhava forma. Antes, o prefeito precisou vencer uma queda-de-braço com os burocratas da secretaria estadual das Cidades que queriam porque queriam botar a academia na beira da BR. Para garantir mais visibilidade.
Quando surgiu a possibilidade do ministério da Educação repassar mais dinheiro para a construção de uma creche moderna, com berçário, refeitório, serviço de nutricionista, salas de aula para educação infantil, parque de diversões, pátio interno e até um pequeno anfiteatro, o prefeito não teve dúvidas: vai para a Vila Bacurau também.
O pessoal da “rua” não gostou. Os moradores das áreas mais nobres da pequena Venturosa ainda não conseguem entender porque a área mais pobre – e mais nova – da cidade recebeu tantos benefícios.
- Porque é onde mais precisa – repete o prefeito como um mantra. Para confirmar que está firme em suas convicções, decidiu construir uma quadra coberta poliesportiva no terreno por trás da escola. E olhe que na vila Bacurau não tem tantos votos assim. Lá moram 200 famílias. No resto do município estão os outros 16 mil habitantes.
O prefeito, por sinal, é homem de poucas palavras e sorrisos contados a dedo. Na frente de sua casa não há aquela tradicional fila de eleitores pedindo favores, dinheiro ou agrados. Ele não dá esmolas, nem gosta de distribuir apertos de mão ou tapinhas nas costas. Seu comportamento atípico para um político do interior lhe garantiu a fama de pouco acessível e antipático.
Mesmo assim, foi reeleito com folga em 2008. Pelo jeito, seus conterrâneos também não se encaixam nos estereótipos dos eleitores forjados por quem mora na capital´".
Torçamos, para que,em Simões (PI), no tempo certo, saibamos separar o joio do trigo.









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